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Está disposto a se perder?

A famosa série de TV LOST mostra pessoas bonitas, reviravoltas sobrenaturais no roteiro, e surpreendentes influências budistas.

Uma palpebra fechada enche a tela. De repente, ela se abre, e a pupila, antes dilatada, imediatamente se contrai, como que reagindo a luz direta, na primeira cena do primeiro episódio de LOST, a série fenômeno de audiência da ABC, agora em sua segunda temporada. Diversas variações dessa imagem aparecem em outros episódios, uma possível dica de que a série é uma alegoria do processo de acordar, de se abrir para a luz da consciência.

Nas próximas cenas vemos o dono do olho, um homem na casa dos 30 anos de terno e gravata, deitado de costas em um bambuzal. Então ele se lembra ou se dá conta que esteve em uma queda de avião em um ilha tropical e começa a correr em direção aos gritos dos outros sobreviventes; a estória se inicia, e depois disso nunca mais parou. Seguindo a linhagem de "Robinson Crusoe", "Lord of the Flies", "Gilligan's Island" e "Survivor", LOST apresenta os problemas e as improvisações dos ilhados enquanto eles lidam com a perda não apenas dos confortos da civilização, mas também a base do comportamento civilizado.

Vemos amizades formadas ou rompidas por um pote de manteiga de amendoim, facções rivais, quebra de alianças, objetivos obscuros, sequestros, espancamentos, a velha tortura com pedaços de bambu sendo enfiados debaixa das unhas, reconciliações nos finais de episódios e redenções, e ah, tem mensagens em uma garrafa. Também vemos flashbacks frequentes sobre a vida antes da queda dos sobreviventes. Dentre eles, temos um médico, um engenheiro, uma estrela de rock em decadência, um ex-membro da Guarda Republicana do Iraque, um vencedor na loteria, um ou dois assassinos, que juntos representam um ponto de ligação mais rico, e mais realista da sociedade do que o milionário e sua esposa, a estrela de cinema, o professor, e etc. Tirando o gordinho engraçado, o avião parece ter se especializado em ter pessoas atraentes, e as semanas que passam na ilha tem um miraculoso efeito de melhora em seus penteados e maquiagem.

Mas LOST mantém nosso interesse com essas pequenas projeções de uma cósmica e possivelmente dharmica dimensão. Ocasionalmente aparecendo durante a luta dos passageiros para sobreviverem, são desenvolvimentos da perspectiva, como um urso polor na floresta, a cura de um paraplégico induzida pela queda, a frequente aparição de uma aparentemente mística sequencia de números, primeiro no bilhete do vencedor da loteria, e depois em vários e improváveis outro lugares, e a descoberta de um bunker que guarda algum tipo de projeto clandestino vindo diretamente de "Arquivo X," repleto de computadores antigos etiquetados com o logo do misterioso Projeto Dharma, um logo que também aparece na pela tatuada de um tubarão.

O que está acontecendo? Um canal de TV de primeira linha está realmente fazendo um considerável invasão no mundo budista? Ou está apenas passando pela loja de terminologias budistas atrás do chapéu estranho ou algum brinquedo para se usar com uma fantasia? Certamente pelo menos um dos roteiristas de LOST parece ter um conhecimento real sobre a prática budista. Os aparatos no bunker do Projeto Dharma incluiem uma máquina do dia do apocalipse que requer que seus guardiões, para evitarem a catastrofe, vigiem um contador e vigilantemente o resetem a cada 108 minutos.

O melhor ator da série, Terry O'Quinn (confira a brilhante a assutadora interpretação dele em "O Padrasto", de 1897), interpreta o personagem mais interessante, chamado de John Locke. Como o idealista inglês, Locke insiste que vivemos em um universo tabula rasa onde somos livres. Ao iniciar o garoto Walt nos mistério do gamão, que Locke apresenta como uma forma de sabedoria bem anterior a Cristo, ele o ensina que a luta entre escuro e claro é um mero jogo, um perspectiva que não está disponível aos outros ilhados, que são pegos em disputas de vida ou morte. Locke também encontra o amado labrador de Walt ao fazer e soprar um apito para cães, e quando os outros correm para se protegerem da chuva, ele senta calmamente na praia em sua famosa postura com as pernas encruzadas, um impecável bhikkhu de cabeça raspada dando boas vindas a chuva com seus braços abertos.

Com essa base formada, e graças ao carisma de O'Quinn, quando os flashbacks revelam Locke como um perdedor, patético, solteiro, humilhado pelo chefe, completo com gravata de poliester e camisa barata, aceitamos seu desespero nas ações seguintes, como o paramlitar sobrevivente e machão com seu próprios sonhos, o guerreiro-sábio que pode muito bem trazer salvação as outras pessoas.

Mas a maior ressonância dharmica de LOST é provavelmente a experiencia de se sentir perdido. Ironicamente, enquanto os personagens lutam para deixarem de estar perdidos, o público público assiste precisamente pra ficar perdido, não apenas para vagar por um ilha desabitada a milhares de quilometros foram da rota em algum lugar entre Sydney e Los Angeles, mas para se sentir bem e desorientado por o sempre repleto de reviravoltas e em expansão enrendo. Se aventurar dentro da "perdição" é se aventurar dentro do mistério, fugir dos limites da razão para o extenso reino a frente, onde uma mão pode bater palmas e florestas podem ter ursos polares. É um forte de vigília, longe do palácio repleto de conforto, dentro do assustador mundo real, onde nada é permanente ou preciso.

Estar perdido é ser privado do aconchego e mais; confiar que se está no rumo, em uma organizada e lógica trajetória do ponto A para a ponto B. Se estiver mesmo indo em direção a algo novo (a busca pelo esclarecimento), qualquer conceito que tiver sobre o destino final ou o caminho que usará a partir de seu ponto de saída (ignorância) é necessariamente um conceito ignorante. Então, com qualquer prática que vai te ajudar a chegar lá realmente (meditando, estudando sutras, se relacionando com um professor), em algum lugar durante o processo você precisa se desligar de seus conceitos, desorientado-se. De fato, para fazer qualquer coisa corretamente, para se fazer de forma que se torne um forma de se despertar, seja escrevendo um romance, ou tocando um saxofone, ou se apaixonando, você deve se tornar tanto desesperademente perdido que onde quer que vá seu destino é um lugar que não poderia ter imaginado antes de chegar lá. Apenas diga, "Huh?"

Nãm importa quando pratiquemos, devemos estar dispostos a ficar perdidos, para afastar os preconceitos que carregamos. Nesse sentido, LOST, com seu mistério-que-sempre-se-aprofunda, tem fornecido uma experiencia de quase meditação para um público gigantesco. Por quanto tempo seus criadores podem manter o mistério, sem dar a resposta com uma mera explicação racional ou exaurir a paciência do público, é outra questão. Por ora, fique perdido enquanto ainda pode.

Fonte: BeliefNet.com | traduzido do inglês por: ogro