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Um midas nerd e workaholic

Bruno Porto - Enviado Especial - Los Angeles

Antes mesmo de estrear nesta sexta feira no Brasil e no resto do mundo, "Missão impossível 3" já entrou para a história : é o filme mais caro (o orçamento passou dos 150 milhões de dólares) já feito por um diretor estreante. Normalmente,seria o caso de pensar que os executivos do estúdio que bancou o longametragem enlouqueceram. Afinal,colocar tanto dinheiro nas mãos de um novato é no minimo ousado.Acontece que o novato em questão atende pelo nome de JJ Abrams.

Para quem não sabe,trata-se do sujeito que criou "Lost". Antes de desenvolver a série que se transformou num fenômeno mundial, JJ pariu outros dois seriados cultuados: "Felicity" e "Alias". O primeiro virou febre entre adolescentes e adultos. O segundo deu novo fôlego às séries de espionagem e transformou Jennifer Garner em estrela hollywoodiana.

Além de Lost e Alias ( que chega ao fim esse mês nos EUA), JJ está produzindo "What About Bryan", seriado que estreou em Março nos Eua. Ele também é o produtor e está cotado para dirigir o próximo longa de "Jornada nas Estrelas". Fã de James Bond, ele não esconde a vontade de dirigir um filme com o agente secreto.

O GLOBO: "Missão impossivel 3" tem um quê de Alias ou é impressão?

JJ ABRAMS: é verdade. Eu copiei muito de mim mesmo. Na verdade, Alias pegou muito emprestado do missão impossivel original, a série de televisão. Os dois fazem parte de um mesmo universo,pois combinam espiões com histórias de amor. Adoro esse tipo de história,então pode me culpar se você vê paralelos.

O GLOBO: Qual a diferença do seu Missão Imposivel para os anteriores?

JJ ABRAMS: O mundo de missão impossivel é cheio de pessoas disfarçadas, geringonças e traições constantes. Para mim, o mais interessante era achar uma maneira de tornar esse mundo mais real. Foi um desafio e tanto. Numa cena do filme, um helicóptero ataca uma ponte. Em outra, invadimos o Vaticano,coisa que já tinhamos feito em Alias. Aliás, depois que Alias passou do centésimo episódio ficou dificil achar lugares que ainda não tinham sido invadidos (risos). Voltando ao Missão, o perigo de se cair no ridiculo quando se ataca uma ponte ou invade o Vaticano é muito grande.

O GLOBO: Pela primeira vez, Ethan Hunt (personagem de Tom Cruise) parece feito de carne e osso......

JJ ABRAMS: A idéia era essa. A história é sobre como as coisas que Ethan faz o afetam. Adoro filmes que mostram o lado humano dos personagens. "Tubarão", por exemplo, é um filme sobre um xerife de cidade pequena que não gosta muito de água. A idéia de estar num barco o deixa com medo. Isso nos conecta com ele. Eu amo como as pessoas de "Alien, o oitavo passageiro" são reais,mesmo sendo um filme de ficção cientifica. Você acredita nelas. Em Missão Impossivel 1 e 2, você não vê quem Ethan é fora das missões. Raramente.

O GLOBO : É dificil dirigir o maior astro de cinema do mundo?

JJ ABRAMS: No começo, fiquei nervoso. Achei que podia fugir ao meu controle. Tom não é só a estrela do filme. Ele também é um dos produtores. Mas ele manteve a mente aberta e deixou a gente escrever o roteiro que queriamos. Pude escolher o elenco que quis. Ele é tão tranquilo que logo você esquece que está lidando com um ícone.

O GLOBO: Qual o seu filme de espião preferido?

JJ: Gosto dos filmes do James Bond como Goldfinger e 007 contra o satânico Dr.No. Eles são super reais. Por outro lado,não são sérios. Sempre gostei desse ângulo escapista. É dificil escolher um filme. Sou um fã do gênero.

Você gostaria de dirigir um filme de James Bond?

JJ: Se os donos da franquia demonstrassem interesse, conversaria com eles feliz da vida ( risos). Mas acho que só diretores ingleses dirigem 007.

Que nada. O diretor do novo, Cassino Royale, é Martin Campbell , que nasceu na Nova Zelândia.

JJ: Então o que eles gostam é de um sotaque estranho e isso eu não tenho.(risos)

A imprensa americana tem chamado você de o novo Jerry Bruckheimer. O que você acha disso?

JJ: Como já trabelhei com Jerry , é um baita elogio.

Como é seu processo criativo?

JJ: Cada caso é um caso, Felicity surgiu de um jeito diferente de Alias. Lost também. A premissa de Felicity eu não sabia se era boa para filme ou série. Conversei com Matt (Reeves) e decidimos que seria uma série.Escrevi o piloto e ele dirigiu. Batemos na porta de um estúdio e eles toparam. Alias surgiu por causa de Felicity. Sempre achei que seria legal se Felicity virasse uma espiã. Criei um piloto em cima dessa idéia e um outro canal gostou. Eu disse que queria dirigir e eles toparam.

Você hesita antes de levar suas idéias adiante?

JJ: Não. Quando eu tenho uma idéia não me vem a cabeça a pergunta "será que eu devo fazer isso?". A frase que vem é "eu tenho que fazer isso". O pior é quando alguém tem uma idéia parecida e leva a coisa aidante antes.

Isso já aconteceu?

JJ: Acontece o tempo todo. E às vezes a outra pessoa teve a idéia pouco tempo depois de eu ter tido. O que mostra que muitas idéias são respostas a coisas que estão acontecendo no mundo.

Você está triste com o fim de Alias?

JJ: Sim,mas fiquei feliz com o fato de a ABC ( que exibe o seriado nos EUA) ter deixado a série no ar por tanto tempo. Raramente programas duram tanto.

Estava mesmo na hora de terminar?

JJ: Acho que sim. É triste,claro,pois amo Jennifer e todo o elenco. Ficamos juntos 6 anos. Os fãs,no entanto,podem ficar tranquilos. O final será a altura da série.

Como será?

JJ: Ia ser legal se no final o público descobrisse que Alias era uma história que Felicity estava escrevendo. O problema é que as pessoas me matariam (risos). Mas ainda não desisti totalmente da idéia.

Você se afastou de Lost por causa das filmagens de Missão Impossivel?

JJ: Sim,mas dedicarei grande parte do meu tempo à próxima temporada de Lost.

Quantas vezes por semana você ouve a pergunta "Que diabos é a ilha de Lost"?

JJ: (risos) Várias. E eu fico agradecido todas as vezes.

A propósito: que diabos é a ilha de Lost?

JJ: (risos) É segredo. Só vou dizer uma coisa: o melhor ainda está por vir.

Jornal: O GLOBO
Editoria: Megazine
Edição: 1
Página: 10
Caderno: Megazine

02/05/06