Registrado em: Domingo, 16 de Abril de 2006 Mensagens: 12 Tópicos: Nenhum Localização: Brasil
Grupos: Nenhum
o fato de terem cortado cenas do filme me desagradou bastante
provavelmente vou estar em alguma sala de cinema na semana de estréia
mas sem a mesma empolgação
a igreja complica as coisas
Registrado em: Quarta-Feira, 9 de Novembro de 2005 Mensagens: 1.236 Tópicos: 13 Localização: Brasília - DF
Grupos: Nenhum
Nesse caso especificamente, o Dan Marketeiro Brown aparece em tudo que é programa de TV afirmando que acredita que tudo que está no livro é real (e tem provas disso tudo). Se fossem espertos, aproveitama para botar o aviso e ainda tirar uma onda:
A obra a seguir é uma mera ficção, qualquer semelhança é mera coincidência
começa o filme...
Narrador: a conspiração está enraizada a fundo, mexem seus dedos e, como fantoches, a mídia, as artes são alteradas... durante 2000 anos eles tem te enganado, HOJE MESMO já tentaram te enganar, mas hoje é o dia em que a verdade será revelada, hoje é o dia em que o CÓDIGO SERÀ QUEBRADO
Voz ofegante... Silas correndo na escuridão...
"Código Da Vinci" é vaiado na pré-estréia em Cannes
Por Mike Collett-White
CANNES, França (Reuters) - O Festival de Cinema de Cannes abre nesta quarta-feira com a exibição de "O Código Da Vinci", pondo fim à expectativa criada em torno de um dos filmes mais polêmicos dos últimos anos.
Jornalistas que assistiram à pré-estréia na noite de terça-feira fizeram duras críticas à adaptação de Hollywood do romance de Dan Brown, obra que enfureceu muitos católicos ao sugerir que Jesus Cristo se casou com Maria Madalena e teve um filho com ela.
O filme custou cerca de 125 milhões de dólares e teve muita exposição na mídia graças a protestos religiosos liderados pelo Vaticano. A Sony Pictures espera um grande sucesso nas bilheterias, o que compensaria o fracasso de público de dois outros filmes caros lançados pelo estúdio recentemente.
A reação da imprensa na primeira exibição do filme em Cannes foi sobretudo negativa. A sala foi tomada por gargalhadas numa das cenas mais importantes.
"Nada funciona. O filme não tem suspense. Não é romântico. E, certamente, não é divertido", disse Stephen Schaefer do diário Boston Herald.
"Parece que ficamos uma eternidade lá dentro. E você está consciente do esforço de todos trabalhando para tentar dar sentido a algo que talvez seja inviável de filmar".
As estrelas do filme, Tom Hanks e Audrey Tautou, chegaram a Cannes na terça-feira num trem decorado com uma gigantesca Mona Lisa, à frente de centenas de atores e atrizes à caça de publicidade no glamuroso balneário da Riviera Francesa.
Durante 12 dias de exibições de filmes, sessões de fotos e tapete vermelho, eles terão ao seu lado astros como Halle Berry, CateBlanchett, Bruce Willis, Gérard Depardieu, Penelope Cruz, Samuel L. Jackson, Monica Bellucci, Zhang Ziyi, Jamie Foxx e Beyonce.
Entre as outras superproduções norte-americanas no festival estão "X-Men: O Confronto Final" e a animação "Os Sem Floresta".
O diretor espanhol Pedro Almodóvar está de volta com "Volver", que conta com a atriz Penélope Cruz, e a diretora norte-americana Sofia Coppola apresenta "Marie Antoinette", com Kirsten Dunst no papel da jovem rainha francesa.
Entre outros destaques em Cannes estão "Fast Food Nation", do diretor Richard Linklater, e o italiano "Il Caimano", que satiriza o primeiro-ministro Silvio Berlusconi.
Oliver Stone também vai exibir 20 minutos do seu ainda inacabado filme sobre os atentados de 11 de setembro nos EUA, "World Trade Center".
"Parece que ficamos uma eternidade lá dentro. E você está consciente do esforço de todos trabalhando para tentar dar sentido a algo que talvez seja inviável de filmar".
Eu pensei nisso quando soube do lançamento do filme...
"Como vão conseguir filmar isso?"
Registrado em: Domingo, 3 de Julho de 2005 Mensagens: 6.976 Tópicos: 159 Localização: Rio de Janeiro
Twitter: @Gabriel_GFV
Grupos: Nenhum
Da frigideira: O Código Da Vinci
Por Marcelo Forlani
17/5/2006
Como já virou tradição aqui no Omelete, ao sair de um filme aguardado, nós colocamos os dedos para trabalhar e digitamos o mais rápido possível o que acabamos de ver. Foi assim com outras produções que acompanhamos desde os primeiros boatos... é assim com O Código Da Vinci (The Da Vinci Code, 2006), longa que foi visto na noite de ontem por três Cozinheiros.
Com a proximidade da data de estréia (sexta - 19 de maio), esta versão direto Da Frigideira tem um único motivo: o filme ainda não havia sido exibido até então. A primeira sessão mundial para a imprensa aconteceu algumas horas antes da nossa, em Cannes, onde a adaptação da obra de Dan Brown foi a responsável por abrir o mais glamouroso festival de cinema do mundo.
Guardadas as devidas proporções, havia também muita expectativa pela sessão em São Paulo. Nem todos os jornalistas especializados foram chamados para assistir ao filme ao lado dos convidados do estúdio (o que gerou grande polêmica no meio). Apesar de marcada para começar às 21h, a maioria das pessoas resolveu não arriscar e chegou com pelo menos meia hora de antecedência.
Após o já tradicional atraso de 15 minutinhos - tempo para esperar os que eventualmente ficaram presos no trânsito - as luzes se apagaram e foram exibidos um vídeo promocional (O bicho vai pegar) e dois trailers (Click e Cassino Royale). Só depois disso o filme começou de verdade. E bem! A rápida perseguição pelo Museu do Louvre é seguida por um crime e dá o tom de mistério que vai seguir a história até o fim.
Para ajudar a solucionar o que aconteceu é chamado o especialista em sinais Robert Langdon - Tom Hanks, bastante diferente com seus cabelos compridos. O chefe da polícia encarregado pela investigação é interpretado por Jean Reno e não demora muito tempo para entrar em cena Sophie Neveu, papel da bela Audrey "Amelie" Tautou. O triângulo entre os três vai continuar por toda a complexa história (que é cheia de reviravoltas e longas explicações), mas quem acaba chamando mais a atenção é Sir Ian McKellen. Quando está em cena interpretando Sir Leigh Teabing, o inglês mostra uma enorme superioridade em relação aos colegas.
Não cabe a este espaço falar mais sobre as atuações e outros efeitos técnicos do filme. Para isso teremos nesta quinta duas críticas especiais sobre o longa. Uma delas por um Cozinheiro que leu o livro, e outra por um que conseguiu bravamente resistir ao hype e foi ver o filme sem ter sequer colocado as mãos na obra de Dan Brown. E quer saber a verdade? Pela rápida conversa que tivemos ao fim da sessão, o apreço ao livro e à forma como a história é contada pode ser decisivo na apreciação do filme (que, por conta disso, teve uma péssima recepção no tradicionalíssimo Cannes - que preza o cinema como arte). Resumindo: quem não leu não gostou. Sorte do Sr. Brown, já que O Código Da Vinci vendeu milhões de cópias mundo afora. Ao menos o sucesso comercial está garantido... e é este o grande segredo por trás do Código, não?
Registrado em: Quarta-Feira, 9 de Novembro de 2005 Mensagens: 664 Tópicos: 19 Localização: por aí.
Grupos: Nenhum
cinemascopio:
"O Código da Vinci, talvez o melhor trabalho de colagem de cartazes e outdoors dos últimos anos, teve sessão especialmente antecipada para a imprensa internacional no Festival de Cannes, na terça à noite, 24 horas antes da sessão de abertura do festival. O marketing da Columbia para o filme é onipresente e onipotente, tratando-o como se fosse o próprio Cálice Sagrado. Numa das praias de Cannes, em frente à prefeitura, uma gigantesca pirâmide foi armada para festa milionária do filme, que estréia no planeta nesta sexta-feira como a versão filmada do livro de Dan Brown que já teria sido lido por qualquer coisa entre 40 e 60 milhões de leitores (sem contar os que pegaram emprestado). Curiosidade por parte da imprensa era grande, ninguém tinha visto o filme, e decepção veio à altura. Silêncio gélido com suspiros de 'até que enfim' na subida dos créditos.
A estratégia de bombaredeio midiático da Columbia, segundo o seu vice-presidente Jeff Blake (da Sony Pictures), em Cannes, era emular detalhe importante do livro adaptado, 'o elemento secreto'. Na sessão para a imprensa, jornalistas americanos de meios importantes (revista Variety, por exemplo) comentavam que não tiveram a oportunidade de ver o filme nos EUA, 'pois a Sony queria que todos passassem pela experiência de ver O Código da Vinci juntos, na mesma hora', disse Blake.
Com isso, o festival, cada vez mais, consolida-se como plataforma para o lançamento de arrasa-quarteirões hollywoodianos. Para o crítico que cobre Cannes, não deixa de ser curioso assistir aos bá-fá-fás dos grandes estúdios, que montam circos inacreditáveis de mídia e glamour enlatado. Contrastam, claro, com os outros tipos bem menores de cinema do mundo inteiro que também dividem a janela vistosa do festival.
Nos últimos anos, Matrix Reloaded, Guerra Nas Estrelas - Episódios II e III e Tróia tiveram lançamentos mundiais em Cannes, festival que junta quase cinco mil jornalistas da área de cinema, irradiando espaço em todas as mídias. No caso de O Código da Vinci, produto à prova de crítica, temos um claro caso de 'falem mal, mas falem muito, muito mesmo de mim'. E é isso o que estamos aqui fazendo.
Perfeita ilustração desse tipo de coisa foi a obrigatoriamente lotada coletiva de imprensa do filme, parte importante do circo de Cannes, com praticamente todos os representantes do filme (Hanks, Taoutou, Paul Bettany, Jean Reno, Howard). Ninguém realmente questionou o filme, mas as perguntas, invariavelmente, iam do óbvio ululante ('12 anos atrás, Forrest Gump disse que a vida era uma caixa de chocolates, o que Gump diria se visse O Códigi da Vinci:') aos já habituais ataques de tietagem, com uma chinesa oferecendo exemplar do livro a Hanks, em chinês.
O FILME - Contorcendo-se como um desengonçado paquiderme ao longo de duas horas e meia de projeção, O Código da Vinci, finalmente, cai morto num constrangedor 'ploft'.Resultado de uma adaptação cinematográfica mumificada pela sua própria auto-importância e excesso de respeito por um livro que, na melhor das hipóteses, é fina literatura-chiclete, o filme de Ron Howard tem todas as marcas do cinema praticado pelo diretor de Uma Mente Brilhante.
Ron Howard filma clichês como se fossem descobertas arqueológicas, e o faz com um certo ar de 'cinema tradiconal' (careta) que, ao mesmo tempo, o distancia do cinema pipoca dos efeitos digitais e explosões (vide Missão: Impossível3). No filme, por exemplo, o conceito de uma fuga automobilística ganha tratamento grandiloquente, como se aquilo tivesse alguma importância para o filme em si, além da ação vulgar e absolutamente lugar comum que a cena é. O mesmo vai para aquele ato corriqueiro de puxar uma arma, e a subsequente briga pelo domínio da mesma contra um vilão.
Os diálogos adaptados diretamente do livro soam datilografados e Howard passa correndo por momentos chave da obra escrita como se de olho no relógio. A sequência de abertura no Museu do Louvre é especialmente simbólica desse problema, no livro dotada de uma certa carga de mistério, no filme apressada como um turista que quer ir ao Louvre, mas sem necessariamente estar disposto a 'perder seu tempo' com detalhes sensoriais como... a arte ali exposta.
Já há alguns anos que os maiores filmes da indústria hollywoodiana de entretenimento têm se revelado viagens místicas à procura de alguma verdade absoluta. Das dez horas e tanto de O Senhos dos Anéis a Harry Potter, temos agora uma outra procura que, direta ou indiretamente, vilaniza a Igreja Católica, mostrada como dotada de sua própria facção fundamentalista (Opus Dei). Mais uma vez, em tratando-se de uma análise do produto cultural americano, é possível ver subtextos relacionados à mancha que é o 11 de setembro na história recente, o bem bem e o mal mal fundamentalista que precisa ser dominado.
A honra de abrir o Festival de Cannes para O Código Da Vinci pode ser interpretada como perfeito casamento de uma super produção (U$ 120 milhões) que flerta com a cultura francesa, dotada de atores e cenários franceses, num festival francês que fala para o mundo. No entanto, é curioso observar o fator turismo de butique do filme, algo notável já no próprio livro.
A França continua sendo, para os americanos (brasileiros também, de certa forma), esse símbolo de uma inatingível sofisticação cultural que, seja o que for, permanece atraente e desejável. Como Robert Langdon (Tom Hanks, com cara de dono de boate), um acadêmico de Harvard que não fala francês, estudioso dos símbolos, signos, das línguas e das imagens, O Código da Vinci tem um quê de turista americano à solta em monumentos europeus.
Tanto o livro como o filme sugerem a diluição radical de um best seller de melhor qualidade de 30 anos atrás - O Nome da Rosa, de Umberto Eco -, adaptado para o cinema em 1986 por Jean Jacques Annaud, misturado com a estrutura de qualquer um dos filmes da Pantera Cor de Rosa, infelizmente sem as gargalhadas.
Gargalhadas, aliás, o filme provocou, involuntariamente, em especial no tom solene que Hanks-Langdom chega à importante conclusão sobre a personagem de Amelie Poulain em pessoa (Audrey Tautou), deixando a impressão perturbadora de que Howard realmente leva tudo aquilo tão dolorosamente a sério."
o kleber tem mais credibilidade comigo do que os cozinheiros. acredito que o filme seja uma bomba, e não vou assistir, até por que, não acho o livro nada demais.
Registrado em: Domingo, 3 de Julho de 2005 Mensagens: 6.976 Tópicos: 159 Localização: Rio de Janeiro
Twitter: @Gabriel_GFV
Grupos: Nenhum
O código Da Vinci (crítica Marcelo Hessel)
Por Marcelo Hessel
18/5/2006
O ator William H. Macy estava estupefato com a sangueira e as excentricidades da história de Fargo, filme de Joel e Ethan Coen que ele estrelou em 1996. Foi então perguntar aos diretores - já que o roteiro trazia o famoso "baseado em história real" - de onde eles tiraram o tal caso verídico. "Ah, isso é só uma brincadeira... nós inventamos tudo", responderam. "Mas... não podemos fazer isso!", retrucou Macy, preocupado. Concluíram os irmãos Coen: "Por quê não?".
Justamente: por que não? Que lei, que lastro é esse? O que difere um filme "inspirado em fatos" de uma franca ficção? Ele é melhor por causa disso? É mais respeitado, mais crível? Seria pior se fosse uma história toda inventada? O Código da Vinci seria o sucesso que é se Dan Brown não tivesse estampado nas primeiras páginas o discutido atestado de veracidade?
Afinal, todo o barulho que a mídia faz em cima da obra não vai além de especular se Maria Madalena era mesmo a mãe dos filhos de Jesus, se Isaac Newton era mesmo um dos guardiões do Graal, se a Opus Dei é esse diabo que pintam. Poucos trataram de estudar a narrativa em si, a construção dos personagens, as fórmulas que Brown recicla. Se a crítica do filme seguisse o caminho da polêmica da "história real", rodaria em falso. Que os historiadores se encarreguem de analisar os fatos. Os Coen diriam que não importa a fonte de uma trama, seja o mundo real ou a imaginação. O que importa é se ela funciona na tela.
E na tela O Código da Vinci (The Da Vinci Code, 2006) funciona mal.
O diretor Ron Howard não é conhecido como um autor, na acepção consagrada do termo, aquele artista que imprime uma marca em toda a sua obra. Howard é o clássico carregador de piano. Segue o que está escrito na receita, seja ela qual for - no caso, quando segue a receita do Oscar, sai-se bem, como em Apollo 13 (1995), Uma mente brilhante (2001) e A luta pela esperança (2005). A fórmula aqui é a das adaptações literárias. Nela, cabe ao diretor enxugar o que há de literal (descrições de espaços, fluxos de consciência) e otimizar o que há de visual, a ação. Daí o primeiro problema - de ação O Código da Vinci tem pouco.
Com exceção de dois ou três clímaces dignos, o filme se compõe basicamente de enunciados sobre teorias conspiratórias cristãs, em formato ilustrado (algumas cenas de charadas e quebra-cabeças lembram Uma mente brilhante, principalmente o deciframento do criptex). O especialista em símbolos Robert Langdon (Tom Hanks) e o historiador Leigh Teabing (Sir Ian McKellen) explicam à criptologista Sophie Neveu (Audrey Tautou), entre uma perseguição e outra, que história é essa do Cálice Sagrado não ser cálice coisa nenhuma. Para quem não leu o livro e toma contato com o material direto na telona, fica parecendo que Brown recorreu ao romance policial apenas para embalar a tal teoria. Que tipo de ação surge daí? É mais ou menos como colocar dois bibliotecários num ringue de gel.
E já que estamos num dia de citações, o crítico do New York Times, A.O. Scott, sintetizou: "Esta é uma das poucas adaptações de um livro que talvez tome mais tempo para assistir do que para ler".
Em outras palavras, não há nada que O Código da Vinci possa acrescentar - seja no formato, seja no conteúdo - ao gênero do thriller. Pelo contrário, Howard desonra até os fundamentos da matéria. Um deles é o de manter o espectador sempre confuso. Ora, se Teabing explica uma coisa, Sophie repete o que ele disse em forma de pergunta, e Langdon explica mais uma vez para deixar tudo mastigadinho, que raciocínio resta ao espectador? A ferramenta digital de iluminar pedaços de um símbolo na parede, por exemplo, como na cena da estrela de Davi, novamente para reiterar o que já estava claro, é um acinte à inteligência da platéia.
Em Cannes, onde o filme ganhou sua première mundial, a pretensa grande surpresa da história foi recebida com risos. Isso tem menos a ver com o imbróglio criado por Brown e mais com a maneira como Howard o apresenta.
Alfred Hitchcock não era um teórico, nem um historiador, mas uma lição sua deveria ter sido seguida aqui - a do MacGuffin.
(Parênteses para a explicação do próprio Hitch, livremente adaptada, sobre o que é MacGuffin: dois sujeitos estão num trem, um deles com uma mala; "o que há na mala?", pergunta um; "aqui nessa mala eu tenho um MacGuffin", responde o outro; "mas o que é um MacGuffin?", retruca o primeiro; "MacGuffin é uma arma de matar elefantes no Brasil", explica aquele com a mala; "mas no Brasil não há elefantes!", indigna-se o outro; "ah, então não é um MacGuffin", conclui o sujeito.)
Esse é o termo inventado pelo cineasta para designar aquele objeto que não importa nada ao espectador, mas que vale a vida para o protagonista. É a defunta do vizinho de Janela indiscreta (1954) e a pedra de urânio de Interlúdio (1946), por exemplo. Aquela pedra é toda a razão pela qual Cary Grant arrisca a vida de Ingrid Bergman. Para nós, porém, dane-se a pedra: queremos ver o que acontece com o casal, como sua relação é ameaçada, depois reerguida. Howard fracassa porque o filme, a teoria "baseada em fatos", é todo um gigantesco MacGuffin.
Não precisaria ser assim. Na verdade, é possível perceber aqui e ali toques de dramaturgia, na maneira como Sophie representa o ideal solidário do cristianismo, como Langdon e o Louvre são emblemas do ideal iluminista contra as trevas não só da Opus Dei como da própria oficialidade católica. Mas o desenvolvimento dos personagens não vai muito além, nem os conflitos de idéias. Todo mundo só quer saber do circo das teorias. O Código da Vinci é um fetiche para conspirólatras.
Por onde passa, O Código Da Vinci, de Dan Brown, gera polêmica e dezenas de subprodutos que se propõem a explicar, desvendar, relevar ou quebrar sua obra. Independente da sua qualidade literária, há de se convir que não é difícil chamar a atenção com uma trama que diz revelar a maior farsa da história da humanidade, envolvendo num golpe só Jesus Cristo, Maria Madalena, Leonardo Da Vinci e até Sir. Isaac Newton.
Ler O Código Da Vinci é ler o roteiro de um filme hollywoodiano. Sem rodeios, rápido, pontuado por seus clichês, perseguições de carro, cidadãos comuns dando olé na polícia e (muitas) reviravoltas. O jogo já estava ganho no momento em que o primeiro exemplar foi vendido, e daí para uma produção estrelada por Tom Hanks foi um pulinho.
Talvez esteja aí o grande problema do filme. Com uma origem tão chamativa e lucros tão certos, o roteiro não se esforça em amenizar as discrepâncias do livro ou retrabalhar personagens mal aproveitados. Tudo está tal qual no texto de Dan Brown, e o aparente excesso de confiança transparece claramente em todo o filme. Estrelas como Tom Hanks, no papel do protagonista Robert Langdon, e Jean Reno, como o policial Bezu Fache, têm atuações totalmente medianas, quase descompromissadas. Audrey Tautou, a eterna Amélie, escorrega feio na interpretação da detetive Sophie Neveau, e Alfred Molina parece preocupado com a hora de ir embora enquanto interpreta o Bispo Aringarosa.
A única atuação notável é de Sir Ian McKellen no papel de Sir Leigh Teabing, personagem que, como no livro, não diz lá muito a que veio e parece ter sido colocado só pra garantir mais algumas reviravoltas na trama.
Apesar de tudo, o roteiro de Akiva Goldsman apara algumas arestas do livro e nos poupa de certos constrangimentos. As mirabolantes explicações sobre a Opus Dei, Jesus Cristo, Maria Madalena e os Cavaleiros Templários são ilustradas através de flashbacks e transposição de planos que podem irritar quem leu o livro, mas explicam de forma quase pedagógica sua trama aos não iniciados. Uma forma de aproveitar o filme é não se preocupar muito com a história e se deixa conduzir por todas as reviravoltas apenas em nome da diversão. Como um Indiana Jones moderno, mas sem músculos, sem ação, sem encanto e verborragia de sobra.