Mistura de artista e engenheiro, o holandês
Theo Jansen cria estranhos animais de plástico
que caminham impulsionados pela força do vento
Theo Hansen/Art Futura
As Strandbeest (Bestas da Praia): movimentos complexos com recursos econômicos
Como é praxe entre os artistas contemporâneos, o holandês Theo Jansen gosta de se definir em termos um tanto pedantes. "Sou um escultor cinético", diz. E complementa: "Sou um artista que esculpe o ar a nossa volta". A arte cinética – que incorpora o movimento – tem já uma certa tradição entre as vanguardas do século XX, principalmente a partir dos móbiles desenhados pelo americano Alexander Calder. Jansen levou-a alguns passos adiante. As partes de um móbile limitam-se a girar e balançar com a força do vento. As obras de Jansen andam. Como insetos gigantescos, elas se movem pelas praias holandesas onde o artista as instala. Compostas de material leve e barato – tubos plásticos, fios de náilon, fita adesiva –, essas criaturas impressionam pela complexidade dos movimentos. Impulsionadas ao acaso, pelo vento, dão a impressão de ser vivas. Jansen, aliás, tem pretensões demiúrgicas: quer produzir criaturas realmente "vivas", reunidas em "manadas" cujos integrantes competem entre si para se reproduzir. "Eu busco refazer a natureza com a idéia de que, no processo, possa revelar alguns segredos da vida", diz.
Theo Hansen/Art Futura
Animaris Rhinoceros: monstro de 2 toneladas que carrega passageiros
É improvável que essas criaturas de plástico um dia realizem todas as pretensões de seu criador. Elas ainda são incapazes de funções bem mais elementares do que a reprodução – não sabem evitar obstáculos, por exemplo. Mas é admirável o que Jansen conseguiu com recursos tão econômicos. Sem nenhum combustível, sem propulsão elétrica, sem programas eletrônicos, seus esqueletos plásticos caminham apenas com a força do vento. Os modelos mais refinados começam a explorar modos de preservar a energia eólica, comprimindo ar em garrafas plásticas – o que permitirá que andem alguns passos mesmo em dias sem vento. A obra de Jansen é um estimulante cruzamento de arte e engenharia. Ele costuma expor suas esculturas tanto em mostras de arte quanto em salões de robótica e convenções de inventores. O artista estudou ciências na Universidade de Delft e dedicou sete anos à pintura antes de enveredar pela robótica. Criou um robô que desenhava grafites e uma espécie de disco voador – que voava mesmo e causou certo pandemônio nas ruas de Delft, em 1980. Há cerca de vinte anos, começou a desenhar criaturas no computador, em seu laboratório na cidade de Ypenburg. Criou uma série de animais virtuais, que depois disputavam corridas no computador. Jansen descartava os modelos lentos e tentava aprimorar os mais velozes. Era a sua forma de instaurar uma espécie de "seleção natural" que garantisse a evolução de seus estranhos bichos.
Foi com base nesses modelos computacionais que Jansen começou a criar suas esculturas cinéticas. Já conta hoje com vários modelos de animais, em uma série que batizou de Strandbeest (Bestas da Praia). Uma invenção mais recente é o Animaris Rhinoceros, que, apesar de ter 2 toneladas, também anda com a força do vento – e pode igualmente ser puxado por uma pessoa, sem grande esforço. É possível instalar passageiros sentados dentro do monstrengo, que funciona, portanto, como um meio de transporte. Jansen sonha com o Animaris Mammoth, uma versão de 12 toneladas que abrigaria várias salas em seu interior.
As visões mais extremadas de Jansen talvez nunca se realizem. Mas suas maluquices nem por isso são menos estimulantes. Num momento em que a "vanguarda" se tornou convencional – como atestam as instalações feitas de paçoca e as performances de viúvas de astros pop –, Jansen tenta reavivar a figura renascentista do artista-inventor. O nome paradigmático dessa estirpe foi Leonardo da Vinci, cujos desenhos geniais anteciparam o helicóptero, o submarino, a bicicleta. É verdade que o papel de Da Vinci como inventor tem sido um tanto romantizado: não, ele não colocou nenhuma dessas engenhocas futuristas para funcionar. Mas seus desenhos fixaram concepções, projetos para o futuro. Quem pode dizer que, no futuro, algum meio de transporte não será inspirado nos bichos de Theo Jansen?
FONTE: Revista Veja dessa semana
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Assim que terminei de ler a reportagem corri pro Youtube! O cara é impressionante!!!
Animaris Rhinoceros
Strandbeest
Animaris Currens Ventosa walking
Animaris Geneticus Ondula
Animaris Percipiere
The art of creating creatures
Para os engenheiros de plantão, uma simulação do funcionamento de uma das estruturas dele: