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LostBrasil - Índice do Fórum  » Off-Topic » O submundo das invasões

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 O submundo das invasões « Exibir mensagem anterior :: Exibir próxima mensagem » 
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RVangelis
MensagemEnviada: Quarta Maio 28, 2008 09:46  |  Assunto: O submundo das invasões Responder com Citação


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Onde estão com minha cabeça?

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Reportagem que descreve uma situação que ocorre em Fortaleza, mas que também deve haver em outras cidades.

* * *

O submundo das invasões
Cláudio Ribeiro, Demitri Túlio e Thiago Cafardo
da Redação

Conheça a partir de hoje um universo paralelo em Fortaleza. É o de quem organiza invasões a terrenos na cidade. Eles ameaçam, especulam, mantêm relações com traficantes em troca de proteção e recorrem, principalmente neste ano eleitoral, aos políticos aproveitadores. Vendem a terra que não é sua, descaracterizando a luta legítima por moradia. O Poder Público geralmente sabe quem são.

Costuma ser uma trama em benefício de alguns. Porém, para a opinião pública, a idéia passada é a de que a movimentação ajudará apenas necessitados de moradia na cidade. Nem sempre é bem assim. O POVO passa a contar a partir de hoje, em uma série de reportagens especiais, como são pensadas, articuladas, executadas e negociadas as invasões a terrenos públicos e particulares em Fortaleza. E também mostrará a insatisfação que isso gera nos movimentos sociais históricos e sérios, descaracterizando uma luta de décadas. Qual é a queixa dos gestores públicos e o que fazem para controlar essas ocupações indevidas? O que diz o Ministério Público?

O esquema que contaremos, a partir de hoje, é o de especuladores, numa rede organizada que geralmente se aproveita da necessidade alheia - o déficit habitacional da cidade chega a 350 mil pessoas, segundo a presidente da Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza (Habitafor), Olinda Marques. A meta deles é lotear os vazios urbanos, quer tenham ou não proprietários, mas desde que lucrem algo com isso. Para isso, criam entidades, arrecadam mensalidades, sondam áreas vulneráveis. E nos bastidores aproximam-se do tráfico, usam capangas e armas, dão ordens para muitos e quem puder que não desobedeça. Tudo em troca de um lote de terra.

A valorização de um lote obtido numa apropriação indébita é tentadora. Um ocupante chega a pagar R$ 50,00 por uma vaga num cadastro montado pelo "dono" ou "dona" da invasão (o organizador), para ter direito ao pedaço do chão. E apenas dois meses depois, se tudo continuar no lugar na disputa com autoridades ou os proprietários verdadeiros, o espaço já pode ser revendido a um terceiro por R$ 3 mil ou até R$ 5 mil. Sem nenhum documento ou prova de posse. Mas qualquer novo "morador" chega perto se o "dono" deixar. Uma blindagem contra curiosos ou infiltrados.

Foi um desses moradores, freqüentador há alguns anos de várias invasões na cidade, que revelou todas as etapas dessa indústria ao O POVO. Para a conversa, ele exigiu o imprescindível: o sigilo de sua identidade. Vamos chamá-lo de o "Informante". Ele teme pela própria integridade: "Se eu for descoberto, me queimam (matam a tiros). São perigosos". Toda a conversa com ele foi gravada. Em três semanas de apuração, os repórteres do O POVO conseguiram confirmar tudo que foi dito pelo Informante em conversas com gestores públicos, representantes da luta pela moradia, promotoria pública, até Secretário de Regional.

Ou constrói ou sai
outras regras definidas pelo "dono", segundo o Informante. Se em 45 dias o ocupante do lote não erguer sua casa, não construir nada ali, poderá ser expulso, "convidado a se retirar" para não atrapalhar o objetivo. Os cordões, ripas e lonas plásticas que demarcam inicialmente os lotes precisam dar lugar a paredes e portas o quanto antes. E há pequenos empresários que se aproximam para tirar proveito. O Informante diz que proprietários de pequenos depósitos de material de construção costumam ceder o necessário, até distribuírem cestas básicas, em troca de lotes. Mas nem aparecem no local. Donos de mercadinhos também fariam distribuição de cestas básicas com a mesma intenção, ganhar lotes. A situação foi admitida pelo chefe da Defesa Civil da Regional III, Cristiano Férrer.

As invasões nunca são realizadas subitamente. O Informante revela que um local a ser invadido costuma ser estudado até oito meses antes. "Eles obtêm a documentação, vêem se o dono tem dívida", conta. Conseguem plantas da área, pesquisam a situação jurídica e de débitos, avaliam benfeitorias públicas que possam atender ao local. "Ah, os líderes sempre têm advogados, para se protegerem. Uns trabalham pra eles há mais de 10 anos. É ver nos processos", acrescenta. "Quando ganham uma ação, fazem festa". Mesmo se a invasão não continuar, o organizador já terá lucrado com os "cadastros" ou com a ajuda de oportunistas.

Pior ainda, num ano de disputa política, a situação explode. Somente na quarta-feira da semana passada, três invasões surgiram inesperadamente em pontos diferentes da cidade e uma outra que havia sido desfeita dois dias antes foi retomada. Nesta, puseram abaixo pela segunda vez o muro de um terreno onde será construída uma creche no bairro Autran Nunes. "Num ano de eleições, isto não é coincidência. Alguns candidatos a vereador dão apoio a essas invasões", confirma o diretor da Guarda Municipal, Arimá Rocha. Roberto Cabral, do Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Arquidiocese de Fortaleza, diz que todas essas invasões recentes ocorridas em Fortaleza são estranhas ao movimento de luta pela moradia, do qual ele faz parte desde 1970.

FONTE: Jornal O Povo
Link direto para a reportagem: http://www.opovo.com.br/opovo/fortaleza/792202.html


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MensagemEnviada: Quarta Maio 28, 2008 10:15  |  Assunto: Responder com Citação





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