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Maurycius

"... e tu fica é com vontade de chorar com a cara socada no travesseiro. E gritar. Acontece".

As palavras acima foram escritas por Leandro Vignoli, sobre Transatlanticism, disco anterior do Death Cab for Cutie. Ao que me consta, dentro dos círculos gordurosos internos, Leandro Vignoli é apenas um puto fã de Death Metal com aversão a feijão, o que nos faria questionar a validade de suas palavras. Mas, em se tratando do supracitado trecho, o homem foi definitivo, e faço minha as suas palavras para introduzir estas linhas a serem escritas sobre Plans, novo álbum da banda americana.

Vou começar correndo o risco de f**** tudo ao dizer que estou perigosamente viciado neste disco. Estou apaixonado pela música, como poucas vezes estive até então. Não que eu vá traçar quaisquer considerações acerca de como certos discos, em certos momentos da tua vida, podem parecer extensões de você próprio. Duas paixões surgindo consonantemente, uma delas sendo um disco, podem ser a combinação mais afortunada ou desastrosa para um ser humano. E o fato é que Plans revela, em sua audição, algo que minha léxica é insuficiente para descrever. Óbvio, isto se conecta a circunstâncias que não exporei aqui, por razões que me parecem bastante claras. Agora, permita-me fazer o favor de, sob minha ótica, dissecar o álbum para você.

Para começo de conversa, Plans é bem mais lento que seu predecessor e nem inicia com guitarraços ao estilo "The New Year". Guitarras aqui, aliás, são, em sua maioria, acústicas, o que nem de longe implica ausência de peso. Ao contrário, há um enlace tão forte entre palavras e melodia, que o peso sobre seus ombros se torna insuportável dentro de pouquíssimos minutos. E, acho válido mencionar, um dos itens de peso, a bateria, excede -- como na maioria dos álbuns de DCFC, neste com mais evidencia -- o aspecto rítmico-percusivo para integrar quintessencialmente a melodia, que se multiplica e se instala sob tua pele como agulhas. Vou até ficar quieto.

De início, a precisão desconcertante de "Marching Bands of Manhattan" espelha o pop sofisticado e constante praticado pela banda e já entrega o refrão mais liricamente potente de todo o álbum, só pra te mostrar que, a qualquer momento, micro-universos inteiros de sensações, texturas e memórias podem implodir bem debaixo do teu nariz [o refrão: "Sorrow drips into your heart / through a pinhole / just like a faucet that leaks / and there is comfort in the sound / and while you do they half-empty or half-full / it slowly arises, your love is gonna drown"]. Ben Gibbard, como eu, deve ser assíduo freqüentador de botecos.

O tracklist enfileira mais e mais canções magníficas conforme sua atenção vai sendo integramente dragada: de "Summer Skin", balada circular de bateria marcial, imediatamente seguida pela pungente "Different Names For The Same Thing", com um piano assassino, ecos e um tipo de dramaticidade não-forçada algo intimidadora. No quesito canções pop marcantes pra c******, lá vão "Your Heart Is An Empty Room" [se resistir a esta, você já deve estar morto] e "Crooked Teeth". E, numa visão aéreo-panorâmica, sobressai a linda "I Will Follow You Into The Dark", somente ao violão, tão simples, mas de uma beleza tão avassaladora e virulenta que eu só posso classificar a música como o elemento central de um estratagema cruel engendrado com fins de reduzir o coração humano, mais esperificamente o meu [talvez, o teu também] a um pó imperceptível de tão fino. E acho que devo sumarizar este parágrafo dizendo que em Plans há canções arrepiantes em tamanha profusão que, ouvindo, me surpreendi dizendo "Gibbard, vá se f****" bem mais de uma vez.

Plans funciona tão bem dentro dos termos propostos pela banda -- objetivos claros: limar qualquer chance de fugir do que te persegue emanando da tua própria cabeça, criar paisagens que caiam bem as tuas esporádicas e necessárias sessões de parar pra pensar e se sentir um fodido -- que até o que tinha tudo pra dar errado funciona bem. Vide a segunda faixa e primeiro single: "Soul meets body" lança a improvável hipótese de um Pet Shop Boys orgânico e arejado soar bem, por meio de um refrão que, nem adianta tentar, não vai fugir da tua cabeça tão rápido. É um dos dois momentos animados do disco, cumprindo clara função de contraponto ao que quer que seja. E é o bastante.

O Death Cab for Cutie, caso ainda não tenha ficado claro, é uma grande banda. Mas, longe de apontar méritos, é o fato de esse Plans existir que denota o mais importante: um disco incrível pode cair na tua mão, vindo de uma fonte confiável e, ainda assim, te deixar mais boquiaberto do que você imaginava ficar. É o reverso da traição à expectativa: é a própria expectativa reforçada, aditivada e re-absorvida. Mas f***-** o que eu escrevi. Vai ver, o disco não serve pra você, e este texto pode ser o maior de todos os atestados de que eu sou um cretino de merda.

Fonte:Gordurama.com.br