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Matthew Fox fala de spoilers, teorias e de Kate

Nota do Editor: Enviamos nosso maior "Losteologista" ao Havaí para conhecer as locações da série, e ele nunca mais voltou. Mas ele nos enviou algumas anotações, que incluíam essa interessante entrevista com Matthew Fox. Você vai ver que o ex-astro de "O Quinteto" tem coisas interessantes a dizer sobre os fãs de LOST, spoilers, o suposto triângulo amoroso Jack-Kate-Sawyer, e sobre aqueles que estão ansiosos em ver um pouco de... amor na selva.

A entrevista foi feita durante um período de chuva, sob uma tenda, pouco antes de Fox iniciar as gravações do episódio exibido em 10 de Maio, no qual Michael conta a Jack que Ana Lucia e Libby foram baleadas. Como seu personagem, o astro é franco e intenso, mas generoso. E, como você logo vai ver, ele sabe muito mais do que está contando. A propósito: a entrevista foi interrompida uma vez pela visita de Desmond, Henry Ian Cusick. Os dois se cumprimentaram e, então, começaram a discutir fatores do episódio final que, infelizmente, tiveram que ficar de fora das anotações.

DOC JENSEN: Como você caracteriza a diferença entre a primeira e segunda temporadas?

MATTHEW FOX: A segunda temporada tem sido um tanto diferente. Tematicamente, está lidando com a relação entre o "nosso" grupo e o da cauda (os tailies). Tem sido mais "O Senhor das Moscas". O primeiro ano foi mais sobre as pessoas tentando se adaptar, sendo assustadas pelas coisas estranhas da ilha. Mas, no segundo ano, alianças foram feitas e desfeitas, houve traições e decepções - um verdadeiro vai-e-volta de quem acredita em quem. Tem sido muito bom, mas criou uma energia diferente entre o elenco...

No primeiro ano, éramos todos nós aqui, tendo que trabalhar nisso, e ninguém se conhecia antes. Éramos amigos e saíamos muito. Mas o tempo que o programa demanda, fazer propaganda da série e nossos interesses paralelos acabaram esfriando isso um pouco - em conjunto com o tipo de histórias que contamos, que nos mostrou como um grupo cheio de atritos. Eu acho que isso faz parte do final da temporada. É surpreendente! Nos sentimos dispersos e vulneráveis face a um grande - ou que acreditamos ser grande - inimigo, e isso nos leva diretamente ao início da próxima temporada.

Está dizendo que a 2ª temporada não foi tão prazerosa quanto a primeira?

Não é isso. É só um pouco diferente. A série é prazerosa de se fazer. Tem muito trabalho, mas é realmente divertida e interessante. Igualmente prazerosa, um tipo diferente de prazer.

Essa temporada deu mais ênfase à mitologia da ilha. O que acha disso?

Adoro. Adoro o que os produtores estão fazendo. Sou como a audiência: fico querendo ver pra onde tudo isso está indo - e espero ansioso que isso comece a aparecer. Mas também sou um grande fã da história, e vou ser paciente, e espero que a audiência também. É como um bom livro. Eu saboreio um bom livro. Não quero acelerar pra chegar logo ao final. Mesmo agitado e ansioso para descobrir o que vai acontecer, eu ainda saboreio a experiência. Eu espero os roteiros com uma grande expectativa. Está acontecendo. Vai ser um final muito legal. Na verdade, eles estão escondendo de nós como a segunda temporada vai terminar. Estou muito ansioso para ler aquelas páginas.

Está realmente tentando me dizer que você, Matthew Fox, não faz idéia de como a 2ª temporada vai terminar?

Tenho uma boa idéia do que está por acontecer e de como isso nos deixa para o começo da 3ª temporada. Vai ser um ano realmente empolgante. Acho que a 3ª temporada tem um incrível ponto de partida.

Então você sabe como a 2ª temporada termina e como a 3ª começa?

Estou muito ansioso - tenho certeza de que sei como o 3° ano começa, e vai ser incrível. Vamos deixar assim: eu sei o bastante sobre como termina esse ano, e sei o bastante sobre as condições em que esse final vai acontecer para adiantar que o início do próximo ano terá certos elementos maravilhosos.

Como foram as cenas em que você descobre que Ana Lucia está morta e se esforça para ajudar Libby?

Foram intensas. Há dois lados nesse caso. Uma parte de mim acha que é uma droga ver pessoas deixando o programa em que tanto queriam estar. Também é difícil, dramaticamente, criar essas cenas. Ao mesmo tempo, sempre mantive a opinião de que é muito importante para a série que alguns morram. Você não pode criar um mundo assim, e contar a história que estamos contando, sem pessoas - os principais, pessoas que você conheceu, pessoas por quem você se apaixonou - morrendo. É necessário, mas não é fácil. O caso da Libby - meu personagem basicamente faz uma eutanásia nela. É muito intenso, para qualquer médico...

Falando em intenso: Jack parece ter ficado ainda mais intenso esse ano. Ele está se mostrando mais ríspido. Alguns fãs estão achando ele um pouco desagradável.

Acredito que Jack tem um senso enorme de compaixão, mas um quase soberbo senso de valor à vida... Ele também é consumido por uma necessidade de vingança, raiva e ódio, que ele quase não participa da história em si, de certo modo. É muita coisa, não é fácil.

Você acompanha as teorias dos fãs na internet?

Não, eu não presto atenção nisso. Honestamente. Acho que é muito legal. Pra mim, uma das coisas mais incríveis nessa história - o modo como ela é contada, o formato e a estrutura - é que ela te faz refletir. É uma série que faz com que as pessoas, toda semana, criem e imaginem enredos e completem as histórias em suas mentes. Pessoalmente, não dou atenção a isso porque não acho que vá ter algum valor pra mim. Acho que prestar muita atenção nisso é interessante para as pessoas que estão criando a história. Só tento me manter concentrado nas coisas que me ajudam a fazer o que eu preciso...

Não tenho pessoas me contando as teorias. Pessoas me perguntam o que vai acontecer - mas elas não querem realmente que eu conte. Se eu começasse a falar - o que eu não faria - eles iriam me impedir. Tenho certeza. Então, tenho uma resposta pronta pra isso: "Não faço idéia, e não vou te contar se eu souber". Mas, na maioria das vezes, eu sei.

Você sabe o suficiente sobre a série para ter uma teoria definitiva?

Acho que tem muita coisa em aberto pra mim ainda, e tenho que ficar aberto a diferentes opiniões. Mas eu tenho minha própria teoria. Acho que estarei certo no final, mas não quero falar disso.

Existe alguma teoria que você ache que esssa temporada eliminou?

Honestamente, acho que a teoria do purgatório foi eliminada. É a mais predominante e difundida teoria sobre a série, e acho que qualquer um que esteja realmente prestando atenção nos episódios pode, com segurança, dizer que não é um purgatório.

Quais foram seus momentos preferidos dessa temporada?

O episódio do Jack, no qual fiz coisas muito intensas. Aquele sobre o casamento de Jack e Sarah, como tudo aconteceu, como tudo isso resultou em quem Jack é, e como ele aborda seu problema de razão x fé - foi tudo muito interessante pra mim. Essas coisas me interessam. É algo com o qual não lidamos conscientemente no dia-a-dia. Mas, no inconsciente, temos uma necessidade muito forte de algum tipo de ligação espiritual. Isso - os episódios anteriores, o primeiro da temporada, a discussão entre Jack e Locke sobre lógica versus crença - tudo é muito interessante. Está continuando e vai seguir, eu creio.

Qual foi sua reação à introdução da história da Dharma? Foi de perplexidade pra você, como foi para os fãs?

Foi, realmente. Todos estavam como, "uau!". Eu sabia que estava chegando. Não sabia especificamente, mas sabia que Damon tinha algo grandioso. Sofremos muito, ano passado - no final da 1ª temporada - por não esclarecermos muitas coisas. Algumas pessoas ficaram até com raiva por não termos entrado na escotilha no final. Eu pensava: "Quem iria pensar que faríamos isso?". Isso que é um final com suspense, cara! Você olha dentro da escotilha, mas não entra nela!

Foi muita pressão por não termos mostrado mais. Então, os produtores, sendo quem são, estão sempre puxando o tapete quando você menos espera. Eles analisam essas ocasiões, preparam tudo para isso, e então eles fazem. Não foi na abertura da temporada, mas no 3° episódio do ano, repentinamente você é bombardeado por uma quantidade enorme de informação. E isso é muito empolgante.

Qual seu papel no triângulo amoroso entre Jack, Kate e Sawyer?

Sinceramente, - e não sei como isso vai parecer - a verdade é que não penso nisso como Jack, Kate e Sawyer. Penso como Jack e Kate. O elemento Sawyer eu nem considero real. Estou muito satisfeito com a situação na qual Jack e Kate estão. Acho que, nesses dois anos, - que significam apenas alguns meses na ilha - eles estão bem mais próximos. Acho que Jack está sendo mais clemente com as fraquezas, decepções ou enganos dela no passado. Tem muito desejo aí (de um relacionamento), e não apenas físico, mas emocional. Existe uma ligação profunda, tinha muita coisa no caminho antes e acho que o ano vai terminar...

[Fox se cala, talvez percebendo que estava para revelar mais do que gostaria]. Ao mesmo tempo, tenho a opinião de que você não pode criar uma história assim e ter pessoas caminhando contentes pela praia de mãos dadas ao pôr-do-sol. Não é a história; não é condizente com a realidade. Acho que vai chegar uma hora em que isso será possível, mas com tudo que está acontecendo na série agora, não é o tipo de coisa que deveria acontecer. Acho que, enquanto Jack e Kate estão mais próximos do que nunca, se sentem mais à vontade um perto do outro, e lidam com essa coiasa que há entre eles, existem outros elementos e outras circunstâncias que evitam que vá adiante...

Você fez referência ao elemento 'tempo' na série, que é algo que muitos fãs - especialmente os impacientes - tendem a esquecer: os sobreviventes estão na ilha há pouco mais de 2 meses, certo?

Certo. Eles sentem como se tivessem gasto dois anos de suas vidas com a série, então ficam, "Qual é! A essa altura, alguém já teria transado na selva!". E eu fico, "Não, não mesmo". Porque o acidente com o avião foi há apenas 2 meses e, se você lembrar de todos os episódios e de tudo o que aconteceu a essas pessoas, se você se colocar no lugar deles, você provavelmente vai pensar diferente sobre o quão logo você quer ver pessoas se relacionando, ou até mesmo sobre a possibilidade de pessoas se relacionando.

"Twin Peaks" teve o mesmo problema. Deixando de lado as reclamações sobre a excentricidade da trama, as pessoas tendem a esquecer a estrutura da série: cada episódio representava um dia. Então, enquanto pareceu levar uma eternidade para resolver o assassinato de Laura Palmer, na realidade do programa, foram apenas 17 dias.

Suponho que esse é um dos problemas quando você interfere no tempo - quando cria histórias que andam num ritmo diferente do das pessoas que vêem a história. Sempre haverá frustrações, de um jeito ou de outro. E isso, definitivamente, acontece com a nossa série, sem dúvida. Me perguntam o tempo todo, "Por que o Hurley continua tão gordo?". Eu digo, "Bom, ele era grande quando começamos, e ele está na ilha há apenas 60 dias." Mas, na cabeça deles, ele está comendo mangas há dois anos! Não, na verdade ele está comendo mangas há 60 dias.

Mangas, molho tipo "ranch" e manteiga de amendoim.

Isso também.

A experiência de Lost ainda lhe dá prazer?

Foi uma mudança bem-vinda para mim e para a minha família. As coisas mais importantes no mundo, pra mim, são as 3 outras pessoas da minha vida. Então, sair de Los Angeles, vir pra cá e ver o quão felizes nossos filhos estão aqui, é absolutamente maravilhoso. Me sentir bem com esse lugar e com o modo como estamos vivendo e, ao mesmo tempo, estar trabalhando em algo de que gosto muito - não podia ser melhor.

Tem alguma coisa com a qual não se sente à vontade, especialmete nesse momento, com Lost sendo um fenômeno?

Não. E, a propósito, é exatamente onde queremos estar. A pressão e o olhar detalhado são coisas muito, muito boas para a série. Nós prosperamos, de um jeito meio masoquista. É parte do que torna isso especial. Se você ficar bastante tempo vendo como o programa fica pronto, vai saber que é um ingrediente necessário pra isso.

O que você quer dizer com isso?

Há uma espontaneidade que surge do desespero, que serve muito bem para a história que estamos contando. Deixa as pessoas na ponta dos pés. Existe vigor e energia nisso. Se estivéssemos filmando em Los Angeles, - o que nunca poderia, logisticamente, ser feito - mas se, hipoteticamente, você pudesse fazer isso, o programa não seria o que é. Haveria um relaxamento, complacência e suavização no processo que acabaria influenciando no resultado final na tela da TV.

Ah, e se, de repente, todos acordassem em suas camas, em terra firme, não fazendo a mínima idéia de como foram parar lá?

Ninguém vai acordar e misteriosamente aparecer em um lugar qualquer.

É uma promessa?

[Depois de uma pausa proposital] É uma promessa.

Fonte: EW | Compilado, traduzido e adaptado por: grilo