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fferraz · **Enviada:** Terça Janeiro 27, 2009 12:07 | **Assunto:**

Entrevista com Naveen Andrews na revista RTE Guide

2010 foi definido como o último da série Lost, que sempre muda de tema, retorce o roteiro e é sobre... bem, quem sabe sobre o que Lost fala!? Mas uma de suas estrelas tem uma história de vida que rivaliza com o drama de Lost. Donal O'Donoghue encontra Naveen Andrews

Em meio ao burburinho do Festival de TV de Monte Carlo, Naveen Andrews está fumando rapidamente. "De que parte da Irlanda você é?" pergunta a estrela da série de TV, Lost. Ele escuta e então pensa por um momento. "Você sabe que tenho relações em Cork," diz ele. "Eu visitei Skibbereen com meu filho não muito tempo atrás. Acredito que eu sou relacionado com alguém que pode ter trabalhado no correio." As sobrancelhas se levantam e a mente sonha levemente. Andrews, um ator Britânico-Asiático de um bairro da classe trabalhadora de Londres, como um homem do Oeste de Cork? "Não, eu não contei a eles," ele diz e sorri. "Você pode imaginar a reação?"

Em uma série infame por seus roteiros bizarros (ursos polares, viagem no tempo, monstro de fumaça), a estória de Andrews é estranha como qualquer coisas que os roteiristas pudessem inventar. Ele nasceu em Wandsworth de pais que se mudaram para Inglaterra vindos de Kerala nos anos 60. Eles eram adeptos do amor "rústico": Andrews diz que eles criaram uma barreira entre ele e seu irmão mais novo com quem ele não fala a anos. Jogado para fora de casa aos 15 anos, ele foi viver com sua professora de Matemática com quem mais tarde ele teve um filho. Nos seus 20 anos o inexperiente ator se viciou em heroína e álcool mas ainda manteve uma carreira que incluiu a adaptação para TV, The Buddha of Suburbia. Antes de Lost, Andrews era mais conhecido por ter se pendurado em uma caverna com Juliet Binoche em O Paciente Inglês. Agora pergunte a ele como Lost mudou sua vida e ele simplesmente diz: "Me ajudou a educar meus filhos."

Quando começou em 2004, Lost balançou o firmamento do mundo da TV. Não somente porque a criação de JJ Abrams contava com um orçamento de cinema (um avião de passageiros é dramaticamente destroçado nos minutos de abertura) ou porque o roteiro é maluco, mas porque a série ousou arriscar. Talvez, mais arriscado ainda, foi a sua interpretação de um guarda da República Iraquiana como um dos sobreviventes na ilha. Esse era o personagem de Andrews, Sayid. "Desde o começo, o que me intrigou foi que era uma série Hollywoodiana de TV aberta no horário nobre e havia um Iraquiano nela," diz ele. "Havia um senso de responsabilidade para com todo o mundo Árabe e não somente com o Iraque, para que tivéssemos certeza de que o que o povo veria era um ser humano com todas as suas complexidades. As pessoas não são brancas e pretas, mas sim humanas, e para ser capaz de fazer isso em uma série de TV é incomum e bom."

As complexidades de Andrews são tanto herdadas como criadas por ele próprio. Ele tem duas crianças, Jaisal com sua antiga professora e o garoto de 3 anos, Naveen Joshua, de um relacionamento de quando ele estava brevemente separado de sua parceira de longa data, a atriz, Barbara Hershey. Em mais de uma ocasião, Andrews disse que a coisa de qual ele mais se orgulhava era de ser um bom pai. Por que? "Por causa da maneira com a qual eu fui criado. Se alguma coisa me educou em como criar crianças, foi..." Ele se engasga na frase. "EU acho que o que quero dizer é que meus pais me ensinaram o que NÃO fazer."

Quando Andrews tinha seis anos, sua mãe o deixou no parque para que ele achasse sozinho o caminho de casa. "Eu não me imagino fazendo isso a uma criança," diz ele. "Então quando eu digo que eles me ensinaram o que não fazer, eu digo com sentido." Ele acredita que as cicatrizes emocionais que foram causadas nele naqueles dias estarão sempre com ele. "Eu acho que você vive com elas pro resto de sua vida e elas nunca são resolvidas," diz ele. "Mas esperançosamente você consegue chegar a um tipo de paz. Mesmo assim, essas coisas ficam com você. Talvez a cura comece com eu sendo um bom pai. Quebrar essa corrente é um grande feito se você conseguir."

Atuar foi algo que apareceu do nada na vida do jovem Londrino. Durante uma produção da escola - um conto Russo no qual ele fazia o papel de um lenhador - uma professora sugeriu aos pais de Andrews que ele poderia ter um futuro no palco. "É claro que eles ficaram horrorizados e com razão," diz Andrews. "Isso foi em 1976 quando você realmente não via Indianos na TV ao menos que eles estivessem abanando alguém. Então eu tive toda a simpatia com as hesitações e receios de meus pais." O fato é que ele eventualmente acabou na escola Guildhall School of Music and Drama mais devido a circunstâncias angustiantes do que a qualquer outra coisa. "Eu gostaria de poder dizer que houve um grande projeto, que foi tudo planejado, mas não foi," diz ele. "Eu não tinha qualificações e eu não sabia exatamente o que fazer. Eu escutava naquela época que se você entrasse em uma das melhores escolas de dramaturgia, que seria pago."

Agora ele está na vanguarda de uma série de TV campeã de audiência mas a vida não mudou muito pra Andrews exceto em um aspecto chave. "A grande mudança pra mim pessoalmente foi viver na América após 29 anos em Londres," diz ele. "Eu nunca senti que Londres era meu lar, mesmo tendo nascido lá. Eu realmente sinto, sem ser muito dramático, que eu tive uma segunda chance nos EUA e em particular em Los Angeles. Eu acho que isso ocorreu parcialmente devido à predisposições. Na Inglaterra, é muito fácil ser um alcoólatra. Muitas pessoas são mas elas não sabem ou não se importam. Mudar para um lugar aonde você fica em evidência demais se você estiver bebendo de manhã, é bom se você quer parar."

Andrews, que não toma um drink a 6 anos, credita Steve Jones, ex-Sex Pistol, por ter salvo sua vida. Eles se conheceram em uma festa em Los Angeles, onde Jones mora e trabalha como DJ. O ator ficou surpresos em ver que o punk, um dos seus heróis da adolescência, não fumava ou bebia. "Até aquele ponto eu havia escutado sobre estar sóbrio mas parecia como algo de outro planeta," diz ele. "Quando você está naquele estado, você simplesmente não consegue imaginar sua vida sem bebida ou drogas. É toda sua identidade. Então conhecer alguém que foi uma influência tão grande na sua adolescência e ver que ele está sóbrio teve um efeito muito grande em mim." Mais tarde, Jones acompanhou Andrews ao seu primeiro encontro no AA. "É sempre um dia de cada vez," diz ele, "mas depois de seis anos de sobriedade você tende a estar um pouco mais relaxado ou devo dizer, mais confiante."

Em Janeiro Andrews celebrou seu 40º aniversário (Hershey é 21 anos mais velha). Ele diz que nunca assistiu um episódio de Lost, além do piloto. "Eu não assisti em DVD ou qualquer outro lugar. Por que eu deveria? Eu sou um cara que foi arrastado, aos berros e chutes, para o século 21. Eu não entendo porque as pessoas não lêem livros. Como eu não mais uso drogas ou bebo, ler me ajuda a dormir." Além de Lost ele fez numerosas aparições em filmes (incluindo em The Brave One de Neil Jordan) e enxerga um futuro depois de Lost. "Minha ambição quando comecei a atuar era que qualquer pessoa que não fosse branca pudesse ver-me na tela e pensar 'Eu poderia fazer isso'," diz ele. "Se eu conseguir isso já terá sido maravilhoso."

Fonte: The ODI

Traduzido por: fferraz